A doutora em Sociologia, Teresa Kleba Lisboa, da UFSC, durante o seminário “Mulheres na Política”, realizado na noite de segunda-feira (20) na Alesc, sugeriu um pacto entre as mulheres para superar a desigualdade de gênero na política.
“Por que não existe um pacto entre as mulheres? O que acontece que nós não nos unimos? É meio preconceituoso uma irmandade, então vamos ressignificar, vamos chamar de pacto entre mulheres, alianças políticas entre nós, solidariedade política. Vamos pensar seriamente em uma aliança, mas precisamos dos homens, que nos apoiem, que andem de braços dados”, propôs Teresa.
Atualmente, segundo a socióloga, as mulheres estão sub-representadas, apesar de totalizarem mais de 50% dos eleitores no país.
“Estamos sub-representadas e não é porque não temos capacidade, o problema é de discriminação e desigualdade estrutural. Mais mulheres na política significa uma democracia mais paritária e índices menores de corrupção, como na Nova Zelândia e Dinamarca, que têm mais de 40% de mulheres nos parlamentos”, justificou.
Além disso, Teresa Lisboa defendeu a paridade de cadeiras nos legislativos, ao invés de cota para candidatas.
“Por que a paridade? Primeiro um motivo simbólico, a igualdade política, o mesmo número de homens e de mulheres; segundo porque somos mais da metade da população. A paridade altera a cultura e as agendas políticas”, explicou a pesquisadora.
Elizete Lanzoni Alves, doutora em Direito, concordou com a professora Teresa.
“Não podemos fugir da vocação da cidadania, não é só por intermédio da candidatura, mas ajudar outras mulheres que são candidatas, mulher tem de votar em mulher sim”, argumentou Elizete, que convidou as presentes no plenarinho Paulo Stuart Wright a “buscar em outras mulheres a qualificação necessária para o voto”.
“Quando muitas mulheres entrarem na política, muda a política”, garantiu.
Mulheres na política bariga-verde
Arlete Carminatti Zago, advogada, apresentou dados da representação política para comprovar o desiquilíbrio de gênero na política estadual.
“Como a mulher não participa dos partidos, quando chega a hora das cotas é uma luta para trazer as mulheres. Na política estamos muito aquém, há um desiquilíbrio histórico de gênero, o Brasil ocupa um dos últimos lugares no ranking mundial de participação feminina no parlamento”.
A advogada constatou que na Assembleia Legislativa, de 40 deputados, quatro são mulheres; dos 2.898 vereadores, apenas 390 são mulheres; nas 295 prefeituras há somente 25 prefeitas; e das 15 secretarias de estado, apenas uma é comandada por mulher.
“Os catarinenses votam menos em mulheres, em 2016 tivemos 219 candidatas sem nenhum voto, 19% das candidaturas (de mulheres a vereador), é um dado a ser considerado”, argumentou Arlete Zago.
O problema é o dinheiro
Para Ana Cristina Ferro Blasi, ex-juíza do TRE, as campanhas exigem dinheiro e propaganda e as mulheres ainda não têm garantido acesso ao Fundo Eleitoral, estimado em R$ 1,7 bilhão, apesar da justiça ter fixado percentual no caso do Fundo Partidário, de R$ 890 milhões.
“Não adianta falar em igualdade se não tem dinheiro, a mulher não vai sair do chão. Ficou definido a reserva de percentual só para o fundo partidário, mas uma consulta assinada por todas as senadoras questiona se é possível estender a orientação para o fundo eleitoral”, informou Ana Blasi.
Transgêneros na cota de 30%
A ex-juíza do TRE ainda noticiou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu incluir os transgêneros na cota de 30% reservada às mulheres.
“Elas são minorias também”, avaliou.
Antagonismos entre mulheres
Chamou a atenção da plateia, quase totalmente feminina, a enumeração pela professora Teresa Lisboa das mulheres que já se elegeram vereadoras em Florianópolis.
“Seis vereadoras: Clair Castilhos, Angela Amin, Lia Carmen Klein, Angela Albino, Zuleika Lenzi e Jalila El Achkar”.
Várias participantes do seminário lembraram da atual vereadora Maria da Graça (MDB).
"É que na verdade a vereadora Maria da Graça, eu até coloco aqui (na transparência), as vereadoras anteriores tinham algum comprometimento em relação às questões feministas, então a vereadora Maria da Graça se autodesigna, pelo que sei, ‘não sou defensora das mulheres’, ‘não sou feminista’, então isso é lamentável, isso é uma vergonha”, declarou Teresa Lisboa.
Segundo a professora, a mulher na política precisa adotar uma perspectiva feminista.
“Com perspectiva de gênero, que se compromete com as questões das mulheres e com o exercício do poder do ponto de vista feminista, de forma coletiva”, insistiu.
Escolas presentes
O seminário “Mulheres na Política” foi organizado pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e pela Escola Judiciária Eleitoral, do TRE, respectivamente representadas pela coordenadora Marlene Fengler e vice-diretora Renata de Fávere.
Prestigiaram o seminário a deputada Ada de Luca (MDB), bem como mulheres integrantes de vários partidos com atuação em Santa Catarina.