Mais de 5 mil escolas foram fechadas na área rural catarinense entre os anos de 1995 e 2011, segundo pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Este é um dos principais motivos da realização do Seminário Estadual de Educação no Campo promovido em Chapecó, de 28 a 30 de agosto, por iniciativa da vice-presidente da Comissão de Educação, Desporto e Cultura, deputada Luciane Carminatti (PT). Mais de 300 agricultores, assentados, quilombolas, indígenas, estudantes, educadores, políticos e assessores participaram do primeiro dia de debates que iniciou às 10h e terminou às 17h, no salão de eventos da Catedral Santo Antônio.
Carminatti quer concluir o seminário, ao meio-dia de sexta-feira, com a elaboração de um documento contendo propostas em prol da educação e do desenvolvimento da propriedade rural e com o objetivo de manter os jovens no campo. A parlamentar apontou o fenômeno denominado nucleação, ou seja o fechamento das escolas nas comunidades rurais e a concentração de estudantes na cidade mais próxima, como fator decisivo para a evasão rural. Segundo ela, “tirando a escola, tiramos a referência comunitária, o espaço para encontro, comemorações da comunidade toda, tiramos este sonho, esta inspiração”.
“Atualmente, os projetos políticos pedagógicos estão desconectados da realidade o que impede o acesso e a permanência desse contingente em escolas públicas – municipais e estaduais – e universidades”, reforçou William Simões, professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Chapecó. O desestímulo aumenta com a precariedade dos transportes escolares fora dos centros urbanos, criticou Simões.
As doutoras, professoras do Núcleo de Educação da UFSC, Sandra Dalmagro e Adriana D’Agostini, apresentaram no seminário números desanimadores. No país, 40% das unidades educacionais rurais fecharam entre 1995 e 2011. Em Santa Catarina, em 1995 existiam 6.857 escolas na área rural contra 1.548 em 2011 e hoje apenas 53 municípios têm ensino médio no campo. Elas ressaltam a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o tema, a fim de evitar ações sem critério, sem planejamento.
A reação do meio acadêmico é um dos aspectos positivos expostos pelas professoras. Para formar docentes adaptados a realidade campesina, a UFSC oferece desde 2009 o Curso de Licenciatura em Educação do Campo nas áreas de Ciências da Natureza e Matemática, e Ciências Agrárias. E o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em andamento desde 1998, já formou cerca de 7 mil jovens e adultos em 11 cursos voltados à agroecologia. “Nem tudo está perdido, existem experiências vitoriosas, inclusive em Santa Catarina, que atendem assentados e agricultores com propostas democráticas de educação”, afirmou Adriana.
Ainda na quarta-feira, o membro do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) representante do assentamento D. José Gomes e coordenador das Cooperativas e do Programa Agroindústria da Reforma Agrária do Estado, Álvaro Santin, discorreu sobre a questão agrária no Brasil atual com uma abordagem a partir da geografia. A necessidade de rever a estrutura agrária foi abordada pelo professor da UFSC, Marcos Oliveira.
O seminário continua quinta-feira (29) com mesa sobre reflexões conceituais e desenvolvimento humano com a participação de Roseli Caldart – MST, Solange Todero Von Onçay – UFFS e Ângelo Antônio Abrantes – Enesp. Grupos de trabalho serão formados à tarde. Na sexta-feira, acontecerá a socialização dos grupos de trabalho e aprovação da carta final, ato político e encerramento.