O tema equoterapia encerrou, na tarde desta terça-feira (15), o 3º Seminário Estadual sobre Autismo, realizado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina no Clube Aqua Camponovense, em Campos Novos, no Meio-Oeste. O professor e terapeuta ocupacional Fernando Calil, que também é docente da Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), foi o responsável pela palestra de encerramento.
Calil apresentou quais são os programas desenvolvidos pela terapia com uso de cavalos, que vão desde o tratamento de pessoas com deficiência até a formação de paratletas, visando à participação em competições paradesportivas. Na equoterapia, a multidisciplinaridade, a exemplo de que ocorre em outros tratamentos terapêuticos, é essencial.
"Um centro de equoterapia deve contar com uma equipe mínima, envolvendo profissionais da saúde, educação e equitação. A presença de fisioterapeuta, psicólogo e do equitador são essenciais para o trabalho", comentou.
Mas o principal elo dessa cadeia é o cavalo. É necessário que o animal seja diferenciado, com características físicas e comportamentais específicas. Aspectos como andadura, aprumos e temperamento são levados em consideração.
"O terapeuta principal é o cavalo. Deve ser um animal dócil, calmo, com olhar expressivo. Ele deve gostar da proximidade com o ser humano, ter facilidade para aprendizagem, interesse e curiosidade, não evidenciar reação de fuga em situações adversas, nem possuir vícios comportamentais", enumerou.
Durante a terapia, o animal não deve ser trocado. Segundo Calil, é importante para a eficiência do tratamento que o autista conviva sempre com o mesmo cavalo. Geralmente a socialização começa pelo animal para depois chegar aos demais membros da equipe. "O autista precisa ter referência física. Não é fácil para ele chegar num lugar que ele não conhece e se deparar com aquele animal grande. É desafiador."
Os cuidados com o animal e o seu treinamento também foram detalhados pelo terapeuta durante o seminário.
Importância na reabilitação do autismo
Para o autista, a equoterapia tem um programa terapêutico específico, explicou Calil. As pesquisas e estudos sobre o tema apontam que a terapia com cavalos pode melhorar as relações sociais, provocar ajustes tônico-posturais e dar à criança uma melhor percepção do mundo externo.
"O cavalo expressa-se por meio da linguagem corporal. A relação é mais mental e sentimental. As pessoas com autismo também são assim. Para ambos, ruídos mais altos, mudanças na rotina e ambientes desconhecidos causam insegurança", comentou.
Por isso, a relação entre o cavalo e o autista é bastante empática. A reação aos ruídos causados pelas folhas das árvores, as sensações despertadas pelo vento no rosto e os ordores são uma experiência sensorial importante. "Os cavalos não se cansam em se envolver com as crianças autistas. Os pesquisadores apontam que a criança com o autismo é o espelho do cavalo."
A equoterapia, conforme o palestrante, também interfere positivamente em aspectos relacionados à atenção, à concentração e ao sentido de espaço, importantes para um melhor desempenho do estudante com autismo em sala de aula. Há uma melhora, também, no tempo para a resolução de problemas. Como consequência, a interação com o cavalo desenvolve novas formas de comunicação, de autoestima e de autoconfiança.
Para facilitar a entrada do autista na equoterapia, uma alternativa é a utilização de pôneis. "As crianças tendem a se assustar com um animal grande como o cavalo. O pônei faz esse papel de introdução na equoterapia", explicou Calil.
Seminário
O 3º Seminário Estadual sobre Autismo em Campos Novos reuniu, durante dois dias, quase 500 pessoas, principalmente profissionais da saúde e da educação, além de familiares de autistas, vindos de municípios do Meio-Oeste e do Oeste catarinense. O evento foi realizado pela Alesc, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, com apoio da Asca, AMA Campos Novos e Prefeitura de Campos Novos.