A necessidade de políticas públicas que contribuam para a quebra do padrão da divisão sexual do trabalho foi enfatizada pela presidente da Fundação Escola de Governo (ENA), Júnia Rosa Soares, em palestra realizada na manhã desta sexta-feira (19), no Plenarinho da Assembleia Legislativa. A atividade abriu o segundo dia de programação do 8º Encontro de Mulheres Parlamentares de Santa Catarina.
De acordo com a pesquisadora, a divisão sexual do trabalho está na base da desigualdade de gênero. O conceito se refere a atribuições, tarefas e lugares sociais para mulheres e homens. A divisão engloba dois princípios: o da separação – que define o que é trabalho de homens e de mulheres – e o da hierarquização – que valoriza mais o trabalho dos homens do que o das mulheres.
Segundo Júnia, esse padrão tem repercussão nos cargos e funções ocupados pelas mulheres e, consequentemente, nos rendimentos recebidos. “Apesar de termos progredido bastante em relação à carreira profissional, à independência econômica, temos um longo caminho pela frente. Ainda somos sobrecarregadas pelo trabalho doméstico, por exemplo. Também constatamos uma desproporção no número de mulheres ocupando cargos de liderança”, disse.
Na opinião da presidente da Fundação ENA, políticas públicas podem contribuir para melhorar a condição da mulher na sociedade. Júnia pontuou como necessárias ações de valorização da mulher e de empoderamento, além de incentivar participação feminina na política por meio de capacitações. Outra proposta é estimular redes de solidariedade, definidas como espaços de representação e defesa de interesses difusos do gênero.
Ela frisou a importância de promover ações de educação e conscientização. “Temos que mudar essa realidade para as gerações futuras. E isso começa na infância, na educação das crianças. Não é para ficar no discurso, mas para constar na estrutura curricular mesmo. Se na escola quebrarmos esse padrão da divisão sexual do trabalho, será um grande legado para a humanidade.”
Júnia comentou, ainda, sobre dificuldades enfrentadas no cotidiano pelas mulheres para superar tabus e ascender profissionalmente. Ela fez questão de incentivar o protagonismo social feminino. “É um direito republicano.”
A palestra foi fundamentada em dados de uma pesquisa nacional realizada pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e transformada no livro “Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado: Uma Década de Mudanças na Opinião Pública”. Conforme o estudo, a principal razão apontada pelos entrevistados para ter menos mulheres do que homens na política foi o machismo, com 44%. A falta de interesse ficou em segundo lugar, com 14%.
Relatos de sucesso
Na sequência, o público acompanhou uma mesa-redonda composta por mulheres detentoras de experiências de empoderamento. Participaram da atividade a coordenadora da Escola do Legislativo da Alesc, Marlene Fengler; a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim/SC), Sheila Sabag; a prefeita de Santa Terezinha, Valquiria Schwarz (PSD); a vereadora de Pinhalzinho Silvana Bugnotto (PP); a vereadora de Palmitos Loreci Maria Orsolin (PT); e a vice-presidente regional do Extremo Sul do Conselho Estadual da Mulher Empresária (Ceme), Vanilsa de Oliveira.
Programação
A atividade de encerramento do 8º Encontro de Mulheres Parlamentares de Santa Catarina será a palestra “Mídia Training”, ministrada por Juliana Germann, a partir das 14 horas desta sexta (19). O evento é promovido pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, com apoio da União dos Vereadores de Santa Catarina (Uvesc).