O Seminário de Cooperação Brasil Québec, que começou segunda-feira (22), terminou hoje, no Palácio Barriga Verde, com intenções de reforçar o intercâmbio manifestadas por representantes das duas instituições envolvidas: a Université du Québec à Montreal (UQAM) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Depois de dois dias consecutivos de debates, a quarta-feira foi reservada para a realização de três mesas redondas que mobilizaram a plateia composta por professores, universitários e servidores. A primeira mesa, mediada pelo professor canadense Robert Davidson, reuniu bolsistas franceses e brasileiros que falaram da riqueza da experiência estudantil em países estrangeiros. O segundo debate durou cerca de três horas e teve como tema “Grandes eventos esportivos e o seu impacto sobre as cidades”. Na parte da tarde, as “Perspectivas de cooperação Brasil-Québec” foram analisadas. O seminário foi realizado em parceria entre a Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e a UFSC.
A canadense Claire Lagier, 22 anos, descobriu sua fascinação pelo Brasil na primeira viagem que fez à Amazônia em 2012. No ano seguinte, a estudante de mestrado voltou ao país, desta vez para uma temporada maior de estudos na UFSC. Em pouco mais de três meses, pode-se afirmar que já domina o idioma português e está aproveitando a experiência ao máximo, como ela mesma contou durante a realização da primeira mesa redonda sobre “Mobilidade internacional e estágios”.
Marilyn Bérgevin Armand, 24 anos, mestranda em Ciências Políticas da UQAM, decidiu estudar no Brasil depois de uma viagem de turismo a São Paulo. A experiência foi marcante, de acordo com a estudante. Em 2012, fez estágio em Florianópolis por 90 dias no Laboratório de Planejamento Urbano “Cidade e Sociedade” dirigido pelo professor Elson Pereira, da UFSC. Em 2013, retornou para trabalhar no Centro de Educação Evangélica Popular (CEDEP). Sua pesquisa, em andamento, aborda a institucionalização das organizações de movimentos sociais no Brasil.
O brasileiro Luiz Felipe Cunha, 32 anos, por sua vez, fez o caminho inverso. Ele é mestrando em Geografia pela UFSC e integra o grupo de Pesquisa do Laboratório de Planejamento Urbano “Cidade e Sociedade” ao lado de colegas estrangeiros. O geógrafo vem realizando, ainda, diversas pesquisas na área de planejamento urbano e trabalhos relacionados a planos de habitação e planos diretores. O último bolsista a se apresentar foi o arquiteto Samuel Steiner, 34 anos, que classificou seu intercâmbio como “uma experiência transformadora”. Ele afirma que a viagem deu origem a um sentimento de “inquietude” que o faz procurar sempre conhecer novas culturas.
Grandes eventos
A segunda mesa do dia foi uma das mais participativas devido aos temas atuais e relevantes. Foram debatidos os mega-eventos e os impactos que provocam na sociedade devido à construção de grandes estruturas como estádios, etc. Participaram o mediador André Luis Santos, os professores Roberto Rizzo (UFSC), Pierre Mathieu Lebel (UQAM), Fernanda Sanches, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Anne-Marie Broudehoux, que participou por intermédio da videoconferência.
O debate durou cerca de três horas mobilizando o público em torno das consequências urbanas e sociais dos mega-eventos que foram analisadas sob todos os aspectos, levando em consideração investimentos econômicos, sociais, interesses econômicos de grandes corporações e todas as estratégias utilizadas para legitimar a intervenção urbana que pode ter impactos dramáticos, inclusive ambientais.
O exemplo da cidade do Rio de Janeiro, que vai sediar a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, foi citado, além de outras experiências mundiais que modificaram grandes metrópoles como a construção das chamadas “catedrais desportivas”. Um dos exemplos citados pelo professor Lebel (UQAM) foi o estádio olímpico da cidade de Montreal, considerado o mais caro da história. A obra custou cerca de mil milhões de euros e a cidade de Montreal demorou cerca de 30 anos para pagá-lo. Com 58.500 lugares, o estádio só ficou pronto depois dos Jogos Olímpicos.
Para encerrar o encontro, o professor Robert Davidson falou sobre projeto de cooperação realizado entre a UQAM na Amazônia, na década de 90. O foco foi a degradação ambiental causada pela utilização de mercúrio na mineração nos rios da região e o desmatamento que proliferou a existência do inseto chamado popularmente de barbeiro, vetor da doença de Chagas.
Por fim, a professora Anne Latendresse garantiu que existe uma intenção clara da universidade canadense de reforçar os intercâmbios e que o Brasil é hoje uma prioridade. A Universidade catarinense, segundo ela, é uma das mais ativas nesse sentido. Luciana Rassier, do Núcleo de Estudos Canadenses da UFSC, reconheceu as dificuldades existentes hoje, mas comemorou a reativação do núcleo que estava praticamente extinto.
Elson Pereira dos Santos, um dos coordenadores do evento, listou algumas condições essenciais para o intercâmbio cultural: apoio institucional de órgãos que facilitem a mobilidade como laboratórios, núcleos de estudos, etc; atores que levem avante a pesquisa, a cooperação e projetos como seminários e demais eventos; apoio financeiro que viabilize os projetos e parceiros dispostos a contribuir efetivamente, citando como exemplo a Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira.