Paulinha fala de trajetória e bandeiras na live do projeto “Papo de Ideias”

23 de julho de 2021

A deputada Paulinha (sem partido) foi a participante de mais uma live do projeto “Papo de Ideias”, promovido pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e a Bancada Feminina da Assembleia Legislativa. Durante pouco mais de uma hora, na tarde de quinta-feira (23), ela contou para a jornalista Sande Moraes sobre sua história na política, além das causas e projetos pelos quais trabalha no Parlamento.

Paulinha cumpre o primeiro mandato como deputada estadual, função cuja origem é mais antiga. “Iniciei a vida na política muito jovem, participando do movimento estudantil e nos movimentos sociais, aos 13, 14 anos, defendendo causas que achava que faziam sentido”, relatou. Saiu de casa na mesma época para trabalhar e, de acordo com ela, mudou para o Rio de Janeiro. “Tive o que considero um privilégio de viver no Rio de Janeiro, conhecer o então governador Leonel Brizola. Participei do governo do Estado do Rio na minha primeira função pública”, destacou.

Mais tarde, de volta a Bombinhas (SC), cidade onde cresceu e vive, foi secretária municipal de Administração aos “20 e poucos anos”. De acordo com Paulinha, essa foi a situação que a conduziu para a primeira eleição como vereadora, cuja consequência acabou sendo duas eleições como prefeita.

Toda essa história aconteceu enquanto ela era filiada ao PDT. Partido pelo qual militou durante 32 anos, mas foi expulsa em maio de 2021 acusada de infidelidade partidária. Sobre isso, a deputada diz ter certeza de que foi algo imerecido. “Tenho absoluta certeza de que não dei causa para que o partido que eu representava tomasse essa decisão”, afirmou. Paulinha é contundente ao avaliar que foi vítima de preconceito e de machismo. “Hoje estou mais conformada, mas foi terrível. Jamais imaginei que o partido tivesse essa ousadia, essa petulância”, lamentou. A parlamentar acredita que a mulher é desejada nas estruturas de poder “para completar um arranjo, cumprir uma cota”. “O partido não estava preparado para ser liderado por uma mulher independente, que não fosse doutrinada ou conduzida pelo sistema”, comentou.

Desafios
Indagada sobre quais os maiores desafios nos três mandatos que ocupou e no atual, Paulinha alegou que “a cada momento histórico é um novo desafio”. Citou que, ao ser vereadora se sentiu obrigada a se posicionar como oposição ao governo de Bombinhas, apesar de preferir sempre a conciliação. Mas a administração vivia momentos de corrupção, algo que ela não apoiava.

Na primeira eleição à prefeitura, a deputada lembrou ter sofrido muito na campanha, com críticas pelo fato de ser mulher e pelo jeito comunicativo e gentil que sempre demonstrou para todas as pessoas. Já no Parlamento, Paulinha considerou que o momento mais difícil foi quando liderou o governo na Alesc durante o processo considerado injusto por ela de impeachment contra o governador Carlos Moisés (sem partido). “Quando me posicionei contra os colegas, fui severamente punida”, afirmou, fazendo a alusão à lei aprovada para proibir a cobrança de pedágio ambiental nos municípios, bandeira que ela defendeu e implantou quando foi prefeita de Bombinhas.

Atuação
Ter sido prefeita de “cidade pequena”, onde é preciso “fazer de tudo”, garantiu Paulinha, acabou levando-a a abraçar muitas causas. Saúde, educação, projetos de lei contra preconceito, pautas de gênero, estratégias na área de desenvolvimento econômico, infraestrutura e questões ambientais são seus focos de trabalho.

Entre todos esses campos de atuação, a deputada destaca o projeto “Escola de Líderes”, criado por ela com o propósito de empoderar pessoas e instituições. “O carro-chefe é o curso sobre como captar recursos a fundo perdido e ofertar para instituições do terceiro setor e instituições públicas também como forma de viabilizar projetos, ensinando como captar esses recursos frente às leis federais e estaduais de incentivo e recursos de ordem internacional”, explicou.

A deputada contou em primeira mão que tem outro projeto para ser lançado, o “Liderança 2024”. A meta, relatou, é fortalecer a liderança na juventude, buscando um trabalho diferenciado com jovens de 16 a 24 anos. “Todos os cursos são gratuitos, virtuais e presenciais, com certificado. Em áreas de conhecimento variadas”, disse ela.

Paulinha também assegurou que deseja continuar trabalhando no empoderamento de mulheres para a política e que vai construir projeto de reeleição, ainda que não tenha tomado uma decisão até o momento sobre qual será seu novo partido. “Um dia vou ser governadora de Santa Catarina. Um estado que tem nome de mulher e a história de Anita Garibaldi merece ser governado por uma mulher”, contou.

Causa feminina
Ao comentar sobre os muitos casos de violência contra mulheres, Paulinha citou que o momento histórico é difícil nesse assunto. Mas avaliou que o Parlamento de Santa Catarina tem algo muito significativo para combater isso. “Somos seis deputadas eleitas e cinco integrando a Bancada Feminina. A sociedade regrediu, com mais violência doméstica contra as mulheres. Mas no Parlamento a gente conseguiu a Procuradoria e o Observatório da Mulher e um conjunto de leis de defesa e proteção da mulher. Talvez até a violência tenha aumentado por causa desse confronto. O machismo é endêmico, secular, histórico e não vai se resolver na nossa geração”, comentou.

Paulinha revelou como acredita que esse quadro pode ser revertido. “Precisamos reprogramar a forma que educamos meninos e meninas. O preconceito é feito no amor, inclusive, quando a mãe pega a menina pequena e já coloca para lavar a louça desde cedo e libera o menino para o jogo de futebol e a brincadeira de rua. O menino com 13 anos de idade “é empurrado” para namorar e beijar na boca. A menina, se acontece na mesma idade é motivo de preocupação. Precisamos tratar disso na formação e em ambiente escolar”, concluiu.

“Papo de Ideias”
O projeto “Papo de Ideias” busca aproximar o Poder Legislativo estadual da sociedade catarinense, por meio de conversas informais com as deputadas, principalmente na questão referente à participação das mulheres na política.